Na maior parte das vezes, os relacionamentos não terminam por falta de sentimento e sim por questões práticas e de personalidade que culminam no efeito reverso da admiração inicial virando raiva, mágoa e desprezo. Pensando nisso existem muitos motivos para não recuar numa história que foi problemática. A maioria dos motivos alegados para um retorno costumam não ter lucidez ou amadurecimento, mas essa constatação é sempre tardia e com efeitos dolorosos. Segue uma lista desses motivos:
1 – Porque o amor não é um bom motivo para voltar
Um relacionamento começa por sentimentos, mas se consolida na interação de qualidade, no amadurecimento das pessoas e na construção de uma vida sólida. É nessa parte cotidiana que as histórias se complicam e levam ao término, portanto voltar porque o amor está chamando de volta pode ser só sinal de carência e não de crescimento real.
2 – Porque no fundo quer resolver uma questão sua
Existem términos que são tão difíceis que deixam um rastro de humilhação emocionalmente degradante. Na hora de querer voltar um dos motivos nunca admitidos pode ser simplesmente a inconformação de quem quer sair por cima dessa vez. Em outros casos a pessoa fez uma revisão de seus comportamentos e percebeu que prejudicou muito a outra e a nova tentativa é só uma forma de pacificar sua culpa e não causar benefícios reais.
3 – Maturidade não vem como um passe de mágica
Quando alguém entra ou sai de um relacionamento imagina-se que pensou com cuidado, avaliou, ponderou e reconsiderou o quanto pôde. Se a decisão do término foi madura, conversada e trabalhada então é como a saída de um trabalho, não tem volta. Não porque ninguém possa voltar atrás, mas porque o ciclo foi fechado e independente do que vier pela frente o que passou não precisa parecer mais bonito.
4 – Vai ser diferente
Sou psicólogo clínico há dez anos e trabalho com mudanças diariamente. Se amor necessariamente transformasse as pessoas eu recomendaria que caíssem num relacionamento para se “curar” de problemas emocionais. O fato é que boa vontade de acertar não implica em real capacidade de mudança, pois você imagina que será uma nova pessoa e superestima a sua habilidade (e do outro) de ser diferente. Sem método, sabedoria, clareza e persistência ninguém muda. No resultado final o que surge é um tipo de esperança vazia de comprovações que se frustra.
5 – Saudade não é um bom motivo
Já ouvi muitas vezes “bateu uma saudade, acho que era amor de verdade”, mas pode apostar você também conseguiria se acostumar com o inferno e sentir saudade do calor dali. O desejo, tesão ou saudade não atestam que havia qualidade no relacionamento, principalmente se ele era recheado de altos e baixos e você é viciado em emoções tóxicas. Seu crivo não é obrigatoriamente bom porque é seu, nem sempre confie nele, em especial se a maior parte das suas decisões são precipitadas e impulsivas.
6 – Todos merecem uma segunda chance
Eu questiono essa ideia de merecimento, afinal ele precisa surgir de ações que se provem reais num certo espaço e tempo. Já vi muita gente posar de Gandhi só para balançar o coração do ex e no final cair no mesmo jogo de antes. Outra coisa a ser avaliada, se você está dando uma segunda chance, é porque não avaliou direito na primeira vez. Decisões tomadas em momentos de instabilidade surgem de uma personalidade instável, logo seguem instáveis na primeira ou décima chance.
7 – “Porque não consigo esquecer”
Claro, você não bateu a cabeça, vai sempre lembrar. É preciso ressaltar: fixação é diferente de amor. É possível que você tenha invocado com essa pessoa e está presa numa imagem interna. Prova disso é quando termina convicta de que fez o melhor e, passada uma semana do término, começa a lembrar só dos bons momentos. Sua mente provavelmente selecionou essas sensações para justificar algum medo de desistir ou se achar covarde e por isso fica ruminando um mundo ideal.
8 – Não deu certo antes, não vai dar agora
Não é regra, mas o que as pessoas despertam em você não se altera sem que as duas partes realmente movam aspectos internos com muita habilidade. As dinâmicas ruins de um casal voltam de um minuto para outro reativando velhos hábitos mesmo que tenham se passado anos. Casais briguentos, por exemplo, dificilmente conseguem sair desse ciclo de briga e reconciliação. Se um relacionamento tem pouca mobilidade emocional para desenvolver formas de interação saudável, aquilo que ativou o seu pior antes tem grande chance de fazer o mesmo agora.
9 – Medo de seguir em frente
Existem pessoas apegadas a rotina, controle e previsibilidade e por isso se agarram ao passado como forma de evitar a ansiedade e vulnerabilidade do presente. Transar, conversar e viver com algo conhecido (mesmo que ruim) pode parecer mais vantajoso do que arriscar algo desconhecido. Você pode querer voltar com o ex, portanto, só por apego e medo de seguir em frente.
10 - Ressentimento mal digerido
Relacionamentos desastrosos ativaram em você suas piores facetas. Ao terminar e superar algumas marcas nem todas as feridas estão plenamente fechadas. Às vezes, num último suspiro de autodestrutividade você pode ser mobilizado a voltar e com isso ressuscitar fantasmas emocionais dolorosos que não estava preparado para lidar. Todo o trabalho doloroso para se recompor fica perdido numa decisão motivado por instabilidade e carência. O preço pode ser alto de mais.
Esperar um (bom) tempo é mais valioso do que ficar como iô-iô num relacionamento. Até para um retorno maduro é preciso que ambos realmente tenham crescido e se aberto e isso leva muito tempo, anos até. Então não seja ingênuo ao pensar que dar marcha ré pode o colocar num estado de euforia, felicidade é bem diferente disso. Dê uma nova chance a você mesmo e siga em frente.
Por Frederico Mattos (Psicólogo)
www.sobreavida.com.br
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